
O professor Lucas Forti confere o funcionamento do ponto de escuta instalado no campus de Mossoró da Ufersa. Foto: Assecom.
Um projeto de pesquisa e desenvolvimento da Universidade Federal Rural do Semi-árido (Ufersa) e instituições parceiras vem coletando informações acústicas em 63 localidades com o objetivo de identificar níveis de degradação do meio ambiente. O projeto Escutadô, vinculado ao Observatório Ambiental do Seminário, teve início em janeiro de 2024 com a proposta de catalogar sons produzidos naturalmente ou a partir da intervenção humana nos locais selecionados.
“São 63 pontos de escuta distribuídos nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba, todos localizados em regiões com clima semiárido”, enumera Lucas Forti, pesquisador da Ufersa e um dos coordenadores do projeto. “Nosso objetivo central é desenvolver uma ferramenta de detecção de áreas degradadas na região do semiárido com base em informação acústica através de um treinamento de inteligência artificial”, detalha o pesquisador.
Entre as instituições parceiras do projeto estão a Associação de Meliponicultores e Meliponicultoras Potiguar (Amep), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Brazilian Institute of Data Science (Bi0s). Já o financiamento fica por conta da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Da esquerda para a direita: Diogo Traldi, da Fitec; Arthur Igor Freire, bolsista de iniciação científica da Ufersa; Giovanni Holanda e Lucas Forti. Foto: Assecom.
Outra instituição envolvida é a Fundação para Inovações Tecnológicas (FITec). O cientista de dados Giovanni Holanda, que faz parte da FITec, é um dos responsáveis pela elaboração do projeto. Ele conta que a criação da proposta já foi um grande desafio, por se tratar de uma ideia sem parâmetros de comparação com outros projetos. “Nós tínhamos essa particularidade que é a escuta da paisagem sonora para identificar situações de degradação a partir do som”, observa ele.
A utilização da inteligência artificial também desafiou os pesquisadores, de acordo com Giovanni Holanda. “Os principais desenvolvimentos recentes de inteligência artificial estão muito mais ligados à imagem, como reconhecimento facial, modelos de visão computacional… e a nossa proposta, como o próprio nome diz, se volta para a escuta do ambiente”.
O nome Escutadô, acrescenta Giovanni Holanda, foi inspirado no poeta cearense Patativa do Assaré (1909-2012). Nascido em uma família de agricultores da região semiárida, ele retratou a realidade da região em sua obra poética e musical.

Os 63 pontos de escuta já instalados homenageiam personagens reconhecidos por sua atuação na região Nordeste. No campus de Mossoró da Ufersa, a homenageada foi Irmã Dulce. Foto: Assecom.
Biblioteca acústica do semiárido
A captação de som, iniciada em 2024, está gerando o que os pesquisadores envolvidos chamam de biblioteca acústica do semiárido brasileiro. Nos primeiros 12 meses de funcionamento, foram coletados 220 mil arquivos de áudio e mais de 11 mil horas de gravação. Em cada ponto de escuta, o som ambiente é gravado por 3 minutos, seguidos de 7 minutos de intervalo, em um ciclo que só é interrompido para a troca ou coleta dos cartões de memória instalados.
Um suporte essencial para a compreensão dos sons captados é o monitoramento constante das condições climáticas da região. Esse monitoramento é feito por meio de estações meteorológicas instaladas em pontos estratégicos (de acordo com a localização dos pontos de gravação). Alimentadas por energia solar, as estações monitoram dados como umidade, velocidade do vento, temperatura e volume de chuvas.

Estações meteorológicas fornecem suporte essencial para a compreensão dos pesquisadores sobre o som captado. Foto: Assecom.
Produto final
O projeto Escutadô mobiliza conhecimentos de Ecoacústica, Conservação da Biodiversidade, Inteligência Artificial e Popularização da Ciência.
“O produto final desse projeto será a disponibilização de uma ferramenta, através de uma plataforma, por meio da qual as pessoas poderão colaborar com novos áudios em qualquer lugar da região do semiárido e essa ferramenta vai poder identificar se aquele local é mais ou menos degradado”, informa o pesquisador Lucas Forti, da Ufersa.
O projeto conta com algumas fases de desenvolvimento, iniciando com formação de um grande banco de dados acústicos. “Nossa ideia é que a natureza nos dê informações por meio dos sons”, diz Lucas Forti. “A partir desses dados coletados nós temos a segunda fase, que é o treinamento da Inteligência Artificial para analisar esses dados”. A terceira e última fase, será a de validação dos dados e o desenvolvimento da ferramenta final de interação com o público.

Lucas Forti, professor da Ufersa e um dos coordenadores do projeto, no Laboratório Ambiental do Semiárido. Foto: Assecom.

Giovanni Holanda, cientista de dados da FITec. Foto: Assecom.

Wesley Geremias dos Santos, doutorando do curso de Engenharia Elétrica da Unicamp e um dos integrantes do projeto. Foto: Assecom.

Ana Beatriz Bezerra, bolsista de apoio técnico do projeto Escutadô. Foto: Assecom,