Localizado no segundo piso do prédio de Fitossanidade, no Campus Oeste da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), em Mossoró, o Herbário Dárdano de Andrade Lima é um espaço que combina pesquisa científica, ensino acadêmico e preservação ambiental. Fundado em 1972 pelo professor Odassi Fernandes de Oliveira, o herbário é um importante arquivo biológico da Caatinga, contando atualmente com cerca de 16.500 amostras de plantas catalogadas, algumas datadas de 1934.
De acordo com a coordenadora do herbário, a professora Anádria Stéphanie da Silva, o espaço funciona como uma “biblioteca da flora da Caatinga”. “Nosso objetivo final é construir essa biblioteca. Coletamos plantas no campo, desidratamos e as armazenamos. Aqui, temos plantas de diferentes épocas e locais, sendo o maior herbário do Rio Grande do Norte”, afirmou. O espaço conta com dois coordenadores, o outro é o professor Leandro de Oliveira Furtado de Sousa.
O processo de preservação é detalhado e envolve técnicas como desidratação, congelamento e fumigação. “A desidratação elimina larvas de insetos, mas, como precaução, congelamos as amostras e utilizamos inseticidas semestralmente. Mantemos o ambiente refrigerado para garantir a longevidade das coleções”, explica a professora.
Além de sua relevância para o registro de espécies, o herbário desempenha um papel crucial no estudo da extinção de plantas. “Se uma espécie não for coletada há mais de 30 anos, ela pode ser considerada extinta. Nosso herbário é uma referência essencial para determinar isso”, acrescenta a professora Anádria Stéphanie.
O herbário também se destaca como espaço de ensino e extensão. Ele recebe estudantes de diferentes cursos, como Agronomia, Engenharia Florestal, Ecologia e Biotecnologia, que utilizam suas coleções para aulas práticas e pesquisas. “Os alunos aprendem a identificar plantas, realizam estudos morfológicos e até desenvolvem pesquisas biotecnológicas com extratos vegetais. Todo material usado nas pesquisas precisa ser depositado no herbário para validação científica”, pontua a coordenadora.
A extensão universitária é outro pilar do herbário. Escolas públicas são convidadas para visitas educativas, nas quais as crianças participam de atividades como a criação de “cicatas artísticas” — quadros feitos com plantas desidratadas. “Essas ações mostram que as plantas podem ter um valor artístico e educativo, promovendo a conscientização ambiental desde cedo”, acredita a professora Anádria.
BOLSISTAS – Atualmente, o herbário conta com 15 bolsistas, que desempenham um papel vital nas atividades diárias, desde a coleta até a catalogação das plantas. Para Joalisson Evangelista, estudante de Engenharia Florestal, o contato direto com as espécies é essencial para sua formação: “A sistemática de identificação no herbário é fundamental para áreas como inventário florestal”. Iago Lourenço, estudante de Agronomia, destaca o impacto do herbário no enriquecimento de sua formação. “Ele amplia nossos horizontes. Aprendemos a trabalhar com espécies além das tradicionais da agronomia, como milho e soja, explorando plantas medicinais e fitoterápicas”.
Já Ingrid de Ramine, estudante de Zootecnia, enxerga o herbário como um diferencial para seu futuro profissional: “Ajuda a identificar plantas forrageiras e fornece a base para quem deseja atuar na área de forragicultura”. Simon Gabriel, também de Agronomia, escolheu o herbário para a descoberta de novas espécies em sua pesquisa de final de curso, no município de Campo Grande. “Já coletei cerca de 530 plantas, muitas ameaçadas de extinção. É gratificante ver como o herbário valoriza e registra a biodiversidade da nossa Caatinga”.
O herbário aguarda a aprovação de um Projeto de Lei no Congresso Nacional que visa integrar coleções biológicas às leis de proteção aos museus, reforçando seu valor como patrimônio científico. Para a professora Anadria, esse reconhecimento é fundamental: “Estamos lidando com matéria viva. Algumas plantas aqui se aproximam dos 100 anos, e nossa missão é preservá-las para as próximas gerações”.
O Herbário Dárdano de Andrade Lima transcende sua função como acervo científico. Ele é um espaço de aprendizado, preservação e valorização do bioma Caatinga, representando um verdadeiro legado para a ciência e a sociedade.