Na noite de ontem, 3 de dezembro, o Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH) do Semiárido, vinculado à Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), encerrou as comemorações de uma década de existência. O Seminário “CRDH 10 Anos” aconteceu no Auditório Amâncio Ramalho, no Campus Central da Ufersa, em Mossoró. A celebração reuniu acadêmicos, representantes de movimentos sociais, gestores públicos e convidados, reforçando a relevância da atuação do CRDH para a defesa e promoção dos direitos humanos na região. As ex-coordenadores do CRDH 2017/2023, as professoras Gilmara Medeiros e Oona Caju, hoje professoras da UFPB, também vieram prestigiar as comemorações.
Durante a programação, marcada por mesas-redondas, oficinas e palestras, a professora Kyara Almeida, coordenadora do CRDH, destacou a trajetória e a importância do projeto, mesmo diante de desafios orçamentários enfrentados nos últimos anos. “Apesar dos percalços e cortes de recursos, conseguimos contribuir de forma indiscutível na transformação da realidade do semiárido. Nossos três eixos de trabalho – o escritório popular, a questão agrária e a diversidade de gênero e sexualidade – têm fortalecido comunidades rurais, movimentos sociais e populações em situação de vulnerabilidade, como mulheres, LGBTQIAPN+ e moradores de bairros periféricos de Mossoró”, afirmou.
Além da atuação comunitária, o CRDH desempenha um papel essencial na formação de estudantes. O projeto agrega universitários de diversas instituições e cursos, como Direito, Engenharia Florestal, Medicina, Serviço Social e Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo, promovendo uma vivência prática que se reflete em pesquisas e Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC). “É um espaço de aprendizado não só para os estudantes da Ufersa, mas também da UERN e da UNP. Essa integração acadêmica fortalece ainda mais o compromisso do CRDH com o desenvolvimento social e educacional da região”, ressaltou Kyara.
Parcerias e financiamento – A realização das atividades do CRDH em 2024 foi viabilizada graças a uma emenda parlamentar destinada pela deputada federal Natália Bonavides (PT). “Essa emenda foi fundamental para que pudéssemos promover todas as ações deste ano, como oficinas, seminários e o fortalecimento da nossa rede de direitos humanos. É importante reconhecer o apoio de mandatos comprometidos com a educação e os direitos humanos”, destacou a coordenadora.
Durante o seminário, foi anunciada a reativação da Rede pelos Direitos Humanos, enfraquecida durante a pandemia. A iniciativa, que conta com a parceria do Ministério Público do Estado e da doutora Ana Ximenes, busca criar um canal direto entre movimentos sociais e o poder público para acelerar ações em defesa dos direitos humanos. “A proposta é consolidar os laços entre representações sociais e civis, facilitando o acesso e a efetivação de direitos básicos que muitas vezes sequer são conhecidos pelas pessoas”, explicou Kyara.
A programação contou com a participação de figuras ilustres, como o ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), José Geraldo de Sousa Junior, e representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Ministério dos Direitos Humanos. O encerramento reforçou o clima de celebração, aprendizado e engajamento social que marcou o evento.
Com uma década de atuação, o CRDH do Semiárido se consolida como referência na luta pelos direitos humanos e na transformação social no interior do Rio Grande do Norte, reafirmando o compromisso da Ufersa com a justiça social e a formação cidadã.
Encerramento celebra conquistas e ampliação da luta por direitos humanos
Encerrado com uma mesa-redonda, o “Seminário CRDH 10 Anos” reuniu importantes vozes na defesa dos direitos humanos. Com a participação da promotora de justiça Ana Ximenez, da professora Marleide Rocha, representante do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania; e Aglaílton Fernandes, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Cada palestrante destacou a relevância do CRDH como espaço de articulação, formação e transformação social.
A promotora Ana Ximenez apresentou a proposta de reativação da Rede Integrada de Direitos Humanos, ressaltando a importância de aproximar a sociedade civil das estruturas de proteção. Ao falar do conceito de “direito achado na rua” e “sociedade alternativa”, ela destacou que o objetivo é adaptar práticas e caminhos às realidades de populações marginalizadas.
“É uma maneira de realizarmos a cidadania de forma mais inclusiva e profunda, alcançando setores carentes de direitos básicos. A proposta é criar um canal direto entre os coletivos de direitos humanos e a promotoria, permitindo intervenções mais rápidas e efetivas em casos de violações”, explicou.
A representante do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Marleide Rocha elogiou o impacto do CRDH tanto dentro quanto fora da Ufersa. Para ela, o centro é um elo fundamental entre a academia e a sociedade. “Programas como o CRDH dão rosto à universidade, aproximando a comunidade acadêmica dos problemas reais. Essa vivência multidisciplinar gera profissionais mais qualificados e sensíveis às necessidades sociais, indo além da teoria e promovendo uma formação prática e cidadã”, enfatizou. Marleide também convidou a comunidade a integrar e fortalecer o projeto, ressaltando a importância da participação coletiva na construção de uma sociedade mais justa.
Aglaílton Fernandes, representante do MST, destacou a contribuição do CRDH na luta pela reforma agrária e na ampliação do debate sobre direitos humanos.
“O CRDH tem nos ajudado a enxergar a luta por direitos humanos de forma mais ampla, indo além da criminalização do movimento. Seja no fortalecimento da pauta pública, nas formações realizadas em territórios de assentamentos e acampamentos, ou mesmo em audiências de conflitos agrários, o CRDH tem sido uma referência estratégica. Essa parceria fortalece tanto o MST quanto a própria rede de direitos humanos”, afirmou.
O encerramento do seminário reforçou a importância do CRDH como espaço de diálogo e transformação, articulando academia, movimentos sociais e instituições públicas. Em um cenário de desafios sociais e orçamentários, a contribuição do centro é apontada como essencial para a construção de um semiárido mais inclusivo e justo, consolidando sua relevância ao longo de uma década de trabalho.