Na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), desenvolve pesquisa para o uso do extrato pirolenhoso na alimentação de ovinos confinados, representando avanço para a produção animal sustentável. O projeto, da doutoranda Maria Alyne Coutinho dos Santos, está sendo desenvolvido no Núcleo de Ensino e Pesquisa de Pequenos Ruminantes (NEPPER), tem como objetivo investigar os benefícios do extrato pirolenhoso, obtido a partir da queima controlada de madeira de eucalipto, na eficiência alimentar e na redução de impactos ambientais.
Maria Alyne, aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Ufersa, explica que o interesse pela pesquisa surgiu quando teve contato com experimentos anteriores conduzidos pelo professor Dorgival Morais, seu orientador. “Quando cheguei aqui, o professor Dorgival já havia conduzido um experimento com o extrato pirolenhoso, e essa pegada ambiental, de reduzir a excreção de nitrogênio, me fascinou. Foi isso que me fez escolher esse tema”, comenta a doutoranda.
A pesquisa está em andamento, com os animais sendo alimentados com diferentes doses do extrato, variando de 0 a 20 ml por dia. Cada um dos cinco ovinos passa por todas as doses ao longo de 100 dias, em ciclos de 20 dias. O objetivo, explica a doutoranda, é avaliar os efeitos do extrato sobre o metabolismo dos animais, verificando, principalmente, se ele aumenta a capacidade de absorção de nutrientes, especialmente proteínas. “Espero que o extrato pirolenhoso tenha uma contribuição significativa para a produção animal, e que a indústria veja o valor desse aditivo, facilitando sua utilização em larga escala”, acrescenta Maria Alyne.
O professor Dorgival Morais destaca que a pesquisa com o extrato pirolenhoso surgiu em parceria com colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “A ideia foi induzida pelo professor Alexandre Pimenta, que nos disponibilizou o extrato para verificarmos sua aplicação na dieta de animais ruminantes confinados. Estudos anteriores indicam que ele pode elevar a retenção de proteínas nos animais, o que diminui a excreção de nitrogênio, um componente que, em excesso, pode contaminar rios e lençóis freáticos”, explica o professor.
Além dos benefícios ambientais, o extrato pode melhorar a produtividade dos ovinos. Animais que absorvem melhor os nutrientes tendem a ganhar peso mais rapidamente, permitindo uma terminação mais eficiente. Isso se traduz em menor tempo de confinamento, redução de custos e maior lucratividade para o produtor rural. Segundo o professor Dorgival, “a produção animal se tornaria menos impactante para o ambiente e mais lucrativa para o produtor, ao otimizar o uso de nutrientes e acelerar o ganho de peso”.
No NEPPER, a pesquisa se divide em duas etapas. A primeira, que está em andamento, avalia o efeito metabólico do extrato nos animais em confinamento. Posteriormente, o extrato será comparado a aditivos comerciais amplamente utilizados, como antibióticos, para validar sua eficiência e identificar possíveis vantagens em termos de saúde animal e sustentabilidade.
O extrato pirolenhoso, como explica Maria Alyne, é um subproduto da queima controlada da madeira, que seria descartado, mas que, agora, tem um potencial reaproveitamento. “Ele vem da queima do eucalipto, um produto que seria jogado fora, mas que é reutilizado, agregando uma importante pegada ambiental”, afirma.
Ao final da pesquisa, a expectativa é que o extrato pirolenhoso possa ser incorporado de forma mais prática à dieta animal, seja em forma de pó ou em outra apresentação mais viável para grandes rebanhos. “Hoje, administramos individualmente, mas isso é inviável em grandes produções. Precisamos que a indústria perceba a importância e desenvolva tecnologias para facilitar o uso desse aditivo”, conclui Maria Alyne.
A pesquisa da Ufersa, além de reforçar o compromisso com uma produção animal mais eficiente, aponta para um futuro onde a sustentabilidade e a rentabilidade podem caminharem juntas, beneficiando tanto o meio ambiente quanto os produtores.