Ex-alunos do primeiro círculo de alfabetização de Paulo Freire voltaram ao campus de Angicos no dia cinco de abril. Foto: Eduardo Mendonça/Assecom.
Passados 60 anos do início de um projeto inédito de alfabetização de adultos em apenas 40 horas, a cidade de Angicos testemunhou mais um capítulo desta história nos dias quatro e cinco de abril. Desta vez, no campus de uma universidade federal que, se não chegou a ser idealizada pelo educador Paulo Freire, nasceu com a mesma proposta de levar uma educação transformadora e de qualidade a pessoas que estão distantes dos grandes centros.
Valdenice Ivonete, que chegou ainda criança ao primeiro círculo de alfabetização executado no país, foi uma das homenageadas no campus de Angicos da Ufersa. “Para mim é uma felicidade muito grande estar aqui hoje mais um vez e poder dizer que temos essa universidade aqui em Angicos, que minha neta foi formada aqui, que meu filho trabalha aqui, e que tanta gente continua se reunindo para lembrar do que vivemos”, comentou ela.
Ao lado de outros ex-alunos e dos ex-monitores Valquiria Feliz e Marcos Guerra, ela participou de uma Assembleia Extraordinária do Conselho Superior da Ufersa (Consuni) realizada na noite desta quarta (05) com o objetivo de conceder a Medalha e a Comenda de Honra ao Mérito Paulo Freira aos participantes da primeira edição do projeto. A solenidade foi presidida pela reitora Ludimilla Oliveira e contou com representantes da Prefeitura de Angicos, da Secretaria de Educação do Estado, da direção do campus, da direção do Memorial Paulo Freire e de conselheiros e conselheiras da universidade.
Para seis dos primeiros 19 educandos, como o senhor Sebastião Xavier, a homenagem foi realizada In Memoriam. “Meu pai teve o prazer de formar seus filhos, seus netos e até alguns bisnetos depois de participar desse projeto”, disse emocionada Tania Xavier, filha de Sebastião. “Ele sempre contava para todos sobre o curso e sobre como foi maravilhoso ter participado das aulas”.
Paulo Padilha e professora Eliete Santiago, que participou de maneira virtual, marcaram presença da reunião./Foto: Eduardo Mendonça
Ainda na tarde da quarta-feira, 5, ficou a cargo da professora da UFERSA, Juliana Rocha, a missão de mediar a Reunião Ampliada do Núcleo de Estudos Freireanos. O encontro teve como eixo temático “A atualidade de Paulo Freire nas Pesquisas em Ciências Humanas”, e contou com a participação do professor Paulo Padilha (Instituto Paulo Freire) e da professora Eliete Santiago (Universidade Federal de Pernambuco).
“Foi um momento importante para nós da academia, professores e discentes, pois podemos compreender que o legado de Paulo freire instiga a reflexão crítica sobre a práxis pedagógica nas diversas áreas do conhecimento, dentre elas as ciências humanas”, afirmou a professora Juliana, da UFERSA.
Lançamento do livro 40 Horas
Outro momento de destaque na programação foi o lançamento do livro “40 Horas de Angicos: Memórias dos alunos de Paulo Freire no Rio Grande do Norte”. A obra traz crônicas sobre a experiência de 19 ex-alunos do projeto realizado em 1963 e foi escrita pelos jornalistas Passos Júnior, Renata Jaguaribe e Higo Lima, da Assessoria de Comunicação da Ufersa (Assecom).
“Este é um momento simbólico para resgatar parte de uma história vivida há seis décadas aqui mesmo no chão de Angicos, com a presença de personagens que foram e ainda são os principais protagonistas das 40 horas de Angicos”, disse o jornalista Passos Júnior. “Muito já se falou sobre as 40 horas de Angicos, mas nem sempre foi assim”, lembrou ele. “A Ufersa, o campus de Angicos, o Memorial Paulo Freire e o Brasil reconhecem o valor de todo o legado deixado por esses protagonistas que participaram deste importante projeto para a Educação não só de Angicos, mas do Estado do Rio Grande do Norte, do Brasil e do mundo”.
Documentário
O livro “40 Horas de Angicos” é resultado do documentário produzido em 2013 pela equipe de Comunicação da universidade. Além dos jornalistas Passos Júnior e Renata Jaguaribe, o documentário contou com a participação de Eduardo Mendonça (direção de fotografia); Diego Farias (edição); Amanda Freitas (produção e concepção visual); Vanessa d’Oliviêr, Valéria Dantas e Cinara Ribeiro (assistentes de produção).
Atualmente, o documentário é o produto de audiovisual da Ufersa mais reconhecido pelo público externo, tendo atingido em 2023 a marca de um milhão de visualizações.