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Comunicação

Árvores da Caatinga levam requinte a instrumentos de percussão

Arte e Cultura, Estudante 9 de dezembro de 2019. Visualizações: 3143. Última modificação: 09/12/2019 18:00:50

Estudante Nardella Gardner executa trecho da canção “Asa-Branca” (1947), de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, em um xilofone desenvolvido com madeira de Pereiro. | Imagens de Eduardo Mendonça e edição Diego Farias/Assecom/Ufersa.


Uma parte significativa da madeira extraída na Caatinga se torna lenha e carvão vegetal. No entanto, os resultados da pesquisa de monografia desenvolvida pela estudante Nardella Gardner no Laboratório de Tecnologia da Madeira da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, sob a orientação do professor Vinicius Castro, abrem novas perspectivas para um melhor aproveitamento e maior diversificação dos produtos oriundos da nossa vegetação.

O estudo evidencia o potencial para fornecimento de insumos a outros segmentos madeireiros, como o de instrumentos musicais. O xilofone, por exemplo, já recebeu uma versão desenvolvida na Ufersa a partir da madeira de Pereiro (Aspidosperma pyrifolium), uma planta nativa da Caatinga.

O Laboratório já dispõe da caracterização de cerca de 20 árvores nativas quanto às suas condições anatômicas, físicas e mecânicas. E foi o resultado dessa combinação de fatores que levou a madeira de Pereiro a ganhar forma de xilofone. Primeiramente, a planta fora adquirida em uma área de manejo, depois estudada e, por fim, com o auxílio do professor João Liberalino, foi talhada para alcançar as notas desejadas.

Estudante Nardella Gardner apresentou no TCC em Engenharia Florestal a proposta do xilofone à base de madeira de Pereiro. | Foto: Eduardo Mendonça/Assecom/Ufersa

O professor orientador da pesquisa, Vinicius Castro, explica que a maior contribuição do trabalho é viabilizar um destino mais nobre para a madeira da região que, em sua grande maioria, é extraída para geração de energia. “O trabalho da Nardella deverá se exteriorizar aos muros da Universidade e ser transformado em projeto de Extensão porque nosso objetivo é oferecer um conhecimento acessível sobre educação ambiental e, nesse caso, por meio da música”, antecipa Vinícius Castro.

Nardella Gardner desenvolveu a pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso – TCC em Engenharia Florestal, mas o seu contato com a música é bem anterior. Ela integra o quinteto da Banda Falso e é responsável pelo som do Power Chord na guitarra. Familiarizada com o mundo musical, é a partir da sua percepção cultural das tradições nordestinas que a estudante justifica a integração dos artistas, o modo de produção dos instrumentos e a música como expressão.

“Esta pesquisa vai ao encontro das manifestações culturais tão comuns no Nordeste, nas quais a música é um elemento sempre presente, em que os instrumentos musicais utilizados são, na maioria das vezes, elaborados pelas pessoas que as integram, são instrumentos rústicos, construídos a partir das mais diversas técnicas, fazendo uso de madeiras locais”, defende a concluinte, ressaltando ainda que a forte influência da música deriva dos aspectos socioeconômicos de um povo, pois “a cultura possui a capacidade de movimentar a economia local e de desenrolar-se na geração de emprego e renda nos empreendimentos florestais, principalmente em florestas comunitárias, uma vez que parte da produção poderá ser destinada para fins mais nobres que os destinados atualmente”.

Há 30 anos na composição do Grupo Vina, um dos mais tradicionais grupos musicais de Mossoró, o professor João Liberalino fora convidado para o projeto com a missão de encontrar a “batida perfeita”. Os blocos de madeira talhados no laboratório em proporções distintas foram testados em um ambiente de captação acústica e aperfeiçoados até receber a consistência exata possível para emitir as notas e, assim, transformar-se em um instrumento acústico. “O que a Universidade está oferecendo tem um impacto muito grande porque, do ponto de vista musical, é importante que a nossa musicalidade esteja integrada com diversos elementos da nossa cultura, nossa ecologia, nossos costumes”, defende professor João Liberalino.

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Pesquisadores estudam cores e formas de preservação das madeiras da Caatinga.

Professor Vinícius Castro (de crachá), orientador do trabalho, e João Liberalino, que auxiliou na pesquisa. | Foto: Eduardo Mendonça/Assecom/Ufersa