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Comunicação

Jornada Oficinando em Rede aborda desafios da saúde mental

Extensão 30 de outubro de 2019. Visualizações: 1291. Última modificação: 31/10/2019 07:53:38

Abertura da oitava edição da Jornada Oficinando em rede aconteceu na manhã desta quarta-feira, 30, no Expocenter, no Campus Sede da Ufersa Mossoró/Foto: Yuri Rodrigues

Até a próxima sexta-feira, 01, a Universidade Federal Rural do Semi-Árido realiza a 8ª Jornada Oficinando em Rede. Trata-se de um programa de extensão voltado para possibilitar a inserção e tecnologias no campo da saúde mental. O programa acontece em conformidade com os princípios da reforma psiquiátrica. A abertura da oitava edição aconteceu na manhã desta quarta-feira, 30, no Expocenter, no Campus Sede da Ufersa Mossoró, com a participação de usuários e profissionais do Centro de Atenção Psicossocial de Mossoró (CAPS), do médico psiquiatra, Vitor Pordeus e do educador, Ray Lima, profissionais conhecidos nacionalmente pelo trabalho que realizam no campo da saúde mental de forma lúdica com a utilização da poesia, do canto e das artes.

Ray Lima e Vitor Pordeus, profissionais conhecidos pelo trabalho que realizam no campo da saúde mental abriram a Jornada de forma lúdica com poesia, canto e arte/Foto: Cibele Carlos

A solenidade de abertura aconteceu com música e poesia, com os participantes passando pelo Corredor de Cuidados repleto de afetos transmitidos com gestos de amor e cuidados. “O afeto é catalizador, o centro do universo”, proferiu a coordenadora do Programa Oficinando em Rede, Karla Demoly, citando Nise da Silveira, para desejar boas-vindas aos participantes da Jornada. A professora lembrou que o mundo é construído na linguagem e que muitas vezes a academia esquece a linguagem com o emocionar. “Com a emoção criamos boas leis, bons gestos, bons projetos, boas ações” pontuou.

“Esse espaço de vivência e convivência traz novas experiências e um brilhantismo pela alegria que proporciona, sobretudo, para uma chamada especial à saúde mental que está acima de todas as instâncias de saúde”, afirmou a professora Ludimilla Serafim, diretora do Centro de Ciências Sociais, Aplicadas e Humanas. Para a professora, “não podemos ficar presos em nós mesmos” acreditando que “a prisão da mente é bem maior que a prisão das grades”, pontuou, para explicar a importância da Jornada que traz à tona a reflexão sobre a saúde mental.

Reitor José de Arimatea parabeniza o Programa Oficinando em Redes/Foto: Yuri Rodrigues

O reitor da Ufersa, professor Arimatea de Matos, também enalteceu o trabalho da professora Karla Demoly, com o Programa Oficinando em Rede, que já possibilitou a criação do Mestrado Interdisciplinar em Cognição. “Uma pós-graduação muito bem avaliada com conceito quatro [do MEC]”, afirmou. Para o reitor, o Oficinando em Rede é uma alternativa para cuidar da mente e do corpo diminuindo dessa forma o uso de medicamentos.

Intercalando os diversos momentos Jornada Oficinando em Rede a programação conta com a participação do ator e educador, Ray Lima, trazendo a poesia popular como princípio. “Trabalhamos com a cenopoesia que é a articulação entre as diversas linguagens que serão apresentadas nos três dias”, afirmou ao definir a Jornada como um verdadeiro encontro de aprendizagem para uma vida melhor. “É a utilização da arte na dimensão do sensível que muitas vezes é relegado em segundo plano, devido às questões materiais” explicou, acrescentando trata-se “da capacidade de amar, de dialogar, de conversar, a capacidade de se entender. Isso também é humano” pontuou ressaltando a importância da Jornada Oficinando em Rede para o exercício da dimensão de se cuidar e cuidar do outro. “Os conhecimentos, como as pessoas, precisam se encontrarem, dialogarem e se entenderem para poder avançar”, considerou o educador Ray Lima.

SAÚDE MENTAL – Para o psiquiatra Vitor Pordeus não existe saúde sem a saúde mental, uma vez que é a mente que controla as demais. “Antes do enfarto, por exemplo, a pessoa já adoeceu mentalmente ao não se cuidar”, explicou. A saúde mental tem relação direta com a autoestima, o modo de vida e como as pessoas encaram a própria vida. “As pessoas não têm uma consciência da sua própria história/trajetória e vão deixar de cuidar do corpo, da alimentação, da família, do espaço público, e aí vão adoecendo”, resumiu.

Dr. Vitor Pordeus, psiquiatra/Foto: Yuri Rodrigues

O médico afirma que o quadro de adoecimento psicológico acompanha o quadro de adoecimento físico. “Uma pessoa com diabetes também vai ter impacto psicológico que se agrava com a piora da diabetes”, afirmou, para justificar que a saúde mental controla, organiza e precede a saúde física. Para o médico, o mundo vive atualmente um momento de pandemia de doença mental. Depressão, suicídios, overdoses, consumo de drogas, homicídios são alguns reflexos dessa pandemia apontados pelo psiquiatra.

“Hoje a saúde mental é global e isso influencia todos os países, todos os povos ao mesmo tempo”. Essa realidade nos conduz a refletir sobre o modo como as pessoas estão vivendo e convivendo. “Muitas famílias estão competindo entre si, e ao invés de ser um ninho de apoio e cooperação, acabam virando um lugar de abuso e violência”, pontuou. Para o médico, o modo de vida influencia diretamente na saúde do indivíduo, bem como na forma de se cuidar, o que traz consequências para a saúde mental.

Vitor Pordeus busca em Freud “o mal estar da civilização” para falta de acolhimento e apoio para com as pessoas. “Cada vez mais estamos oprimindo, destruindo, competindo, enfim, a famosa farinha pouca para o meu pirão primeiro, nós levando a doença mental”, frisou. Um dos recados deixado pelo psiquiatra é que não existe saúde sem a saúde mental uma vez que é a mente que manda no corpo. “Quem manda na comunidade é o estado psicológico das pessoas e que a cultura, as artes, o modo de viver determinam isso”, afirmou acrescentando que através da cultura é possível modular e fazer a promoção de terapias e diagnósticos de doenças mentais de forma mais eficiente. Para o psiquiatra é essencial que a comunidade debata, pratique, conheça e tenha acesso às novas tecnologias de tratamento, como é o caso da psiquiatria cultural muito bem trabalhada pela Dra. Nise da Silveira, quem tem reconhecimento mundial pelo trabalho revolucionário no tratamento mental no Brasil.

PROGRAMAÇÃO – A Jornada Oficinando em Rede prossegue nesta quinta-feira, 31, com programação na Biblioteca Pública de Mossoró, a partir das 13h30, com a II Exposição Imagens do Inconsciente com obras de arte realizadas no primeiro semestre de 2019 por usuários em atendimento nos Centros de Atenção Psicossocial de Mossoró. E às 15h, a ação Cenopoesia: a arte em todo ser. Além dos minicursos na Ufersa: Brincar e jogar promovendo saúde mental e, Práticas de Cuidado na Saúde Mental e na Educação Inclusiva, além das Oficinas: Oficina de Bonecas, Oficina de Plataforma de recomendação de jogos na saúde mental, Oficina de Teatro e Dança na Saúde Mental: vivências poéticas e, Oficina de Pintura e Saúde Mental.