Uma pesquisa realizada ao longo de 19 anos pelo pesquisador Eudes de Almeida Cardoso, da Ufersa, em parceria com profissionais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), resultou na obtenção de um porta-enxerto de maracujazeiro resistente à Fusariose, doença provocada por fungos que habitam o solo. O material foi a primeira cultivar da Ufersa registrada junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária, com a denominação UFERSA BRSRM 153 e sob o número 54598. O registro foi feito no dia 18 de julho.
O professor Eudes Cardoso lembra que os experimentos com a cultura começaram em 2004. “A partir daí, foi estabelecido um plano de ação, envolvendo as atividades de melhoramento genético tendo em vista o desenvolvimento de uma cultivar de porta-enxerto com resistência à fusariose e com garantia de origem genética”, afirmou.
Segundo os pesquisadores, a fusariose sempre foi um desafio para os produtores de maracujá, prejudicando a expansão do seu cultivo. A doença que atinge as plantas é causada por fungos que habitam o solo e atacam o sistema radicular e vascular da planta provocando a sua morte já nos primeiros meses de plantio, alerta o professor.
Eudes Cardoso é do Departamento de Ciências Agronômicas e Florestais da Ufersa, onde também atua como colaborador da disciplina Fruticultura Tropical no Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia. Representando a Embrapa Cerrados, do Distrito Federal, Fábio Gelape Faleiro, doutor em Genética e Melhoramento, também atuou nas pesquisas de campo e de laboratório que resultaram no porta-enxerto de maracujazeiro resistente à Fusariose.
A pesquisa se deu com espécies de maracujazeiros silvestres que fossem tolerantes ou resistentes para serem usadas como porta-enxertos, uma vez que não existem cultivares comerciais de maracujazeiro resistentes a essas doenças. Uma parte das espécies utilizadas foram coletadas no próprio campus da Ufersa e em outras regiões do semiárido.
Durante a pesquisa, a espécie identificada como Passiflora foetida L. revelou possuir todos os atributos que eram necessários para prosseguir com a investigação. Para o desenvolvimento da cultivar foi utilizado o melhoramento genético convencional visando a resistência à fusariose, o aumento de produtividade e o desempenho agronômico de mudas enxertadas utilizando cultivares de maracujazeiro-amarelo (Passiflora edulis Sims) como copa, que é conhecido também como maracujazeiro-azedo.
Como a P. foetida é uma espécie nativa, foi necessária a obtenção de autorizações de acessos a recursos genéticos para as atividades de pesquisa científica, bioprospecção e desenvolvimento tecnológico na Embrapa Cerrados, Distrito Federal e na Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, Rio Grande do Norte.
As atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação lideradas pelo professor Eudes Cardoso na Ufersa envolveram os profissionais Márcia Michelle de Queiroz Ambrósio, Érica dos Santos Barreto, Lucas Vinicius Cunha Lobato, Ana Verônica Menezes de Aguiar e Roseano Medeiros da Silva, juntamente com uma equipe multidisciplinar da Embrapa.
As autorizações para a pesquisa com as espécies foram concedidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), e com a nova lei de acesso a recursos genéticos, foi feito o devido cadastro no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético (SISGEN), com o número ACB 5230.
“A Ufersa sente-se honrada em dividir o primeiro registro de uma cultivar nos seus mais de 50 anos de existência com a Embrapa, empresa de renome internacional e símbolo de inovação no Brasil”, considera o professor Eudes Cardoso. “Após 20 anos de pesquisas, a obtenção e utilização dessa nova cultivar de porta-enxerto trará novos horizontes para os produtores de maracujá de diferentes regiões do Brasil, que poderão cultivar e expandir a cultura, mesmo em áreas com ocorrência de fusariose”, complementa.
Para a finalização tecnológica da nova cultivar de porta-enxerto, coube à Embrapa o processo de qualificação. Isso foi feito com base na atuação de equipes multidisciplinares dos projetos “Caracterização e uso de germoplasma e melhoramento genético do maracujazeiro auxiliado por marcadores moleculares” e “Desenvolvimento tecnológico de passifloras silvestres – PASSITEC”.
Também na Embrapa, o material foi qualificado nos seguintes setores: Secretaria de Inovação e Negócios; Comitê Local de Propriedade Intelectual; Núcleo de Comunicação Organizacional; Coordenadoria Administrativa de Suporte à Inovação; e Chefia de Transferência de Tecnologia.
De acordo com os pesquisadores, é importante reforçar que a cultivar produzida é uma seleção dentro da espécie e nem todos os acessos de Passiflora foetida L. apresentam as mesmas características morfológicas e agronômicas, incluindo a resistência à Fusariose.
O professor Eudes frisa ainda outro ponto relevante para o processo de obtenção e lançamento da nova cultivar de porta-enxerto. Segundo ele, uma grande motivação da pesquisa foi a busca de uma solução tecnológica para amenizar o sofrimento de produtores de maracujá com a doença em seus pomares, notadamente na região Nordeste e em outras regiões do Brasil.
Além da região Nordeste e da região do Cerrado do Planalto Central, as validações da cultivar estão sendo ampliadas para estados da região Norte e Sudeste.
Entenda melhor os termos da pesquisa
Porta-enxerto é a denominação dada a uma planta que tem como caracterísitica a resistência a doenças de solo e agentes nocivos, como salinidade e outros estresses ambientais que é usada para suportar a copa de uma planta susceptível. Já o termo cultivar se refere a uma espécie de planta que foi retirada do seu ambiente natural e passou por um processo de melhoramento.
Homenagem a Mossoró
A denominação da cultivar de porta-enxerto UFERSA BRSRM 153 presta uma homenagem aos fatos históricos de nossa região. O termo RM153 (Resistente de Mossoró) é uma alusão aos 153 homens que resistiram à invasão do bando do cangaceiro Lampião a Mossoró, no ano de 1927.