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Comunicação

“Ao mestre, Carmelindo”: professor conquista aposentadoria com homenagens

Ensino, Reconhecimento, Servidor 6 de julho de 2023. Visualizações: 1119. Última modificação: 12/07/2023 08:20:21

Após quase 15 anos como docente da UFERSA Angicos, o professor Carmelindo Rodrigues se prepara para aposentadoria/Foto: Eduardo Mendonça

Nunca é tarde para lutar pelos os nossos sonhos. O exemplo é do professor Carmelindo Rodrigues da Silva, do Campus Angicos, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, que aos 61 anos ingressou no magistério superior e que, agora, após 15 anos de sala de aula, conquista à aposentadoria compulsória por idade, ao completar 75 anos. Natural de Minas Gerais, desde criança Carmelindo quis ser professor, mas o destino traçou diferentes caminhos, viabilizando a aspiração de adolescente apenas na fase madura da vida. Tendo iniciada a carreira profissional como operário da indústria, e permanecido por 25 anos como operário, Carmelindo ingressou na UFERSA em 2009, integrando a primeira turma de docentes do Campus Angicos, sendo também o primeiro a conquistar a aposentadoria.

Professor Carmelindo dedica sua trajetória a esposa dele, Iêda Pina/Foto: Cedida

Adolescente, prevalecia o sonho de ser professor de História. Mas a necessidade de trabalhar logo cedo para ajudar os pais o levou para profissionalização com um curso de eletricidade na escola do SENAI/USIMINAS (1969). Em 1977, ingressa no Ensino Superior no curso de Tecnologia em Manutenção e Equipamentos, na Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Dois anos antes, casa com Iêda Araujo Pina Silva, tem três filhas e um filho, considerando a família o seu maior patrimônio. “A minha esposa Iêda é o grande amor da minha vida, a minha joia rara”, declara.

Defesa de doutorado, na UNIMEP/Foto: Cedida

Por trabalhar em áreas de insalubridade, em 1995, ele tem a aposentadoria especial (1970-1995), passando a atuar numa ONG (1996-2008) com trabalho social. Depois, no Centro Comunitário Metodista (1996-1999), em seguida, na Universidade Metodista (1999-2004). Em 1999, Carmelindo Rodrigues decide retomar a atividade acadêmica ao cursar mestrado, na UNIMEP e, em 2002, o doutorado. Em 2007, começa a atividade no Serviço Público na Secretaria de Educação da Prefeitura de Timóteo. No fim de 2008, toma conhecimento de um concurso com 96 vagas para professor da UFERSA.  “Quando saiu o edital, vi que o perfil “Filosofia da Ciência e Metodologia Científica” se encaixava bem para mim. Tinha quatro vagas: duas para Mossoró e duas para o Campus Angicos. Eu preferi Angicos”, recorda.

Sem nunca ter vindo ao Rio Grande do Norte, ele conta que a viagem de quarenta horas valeu a pena com a aprovação dele em primeiro lugar. “Muito estudo, muita determinação, mas considero que Deus me concedeu mais uma oportunidade – maravilhosa”, relembra emocionado.

Carmelindo toma posse na UFERSA/Foto: Cedida

DOCÊNCIA – Finalmente em 17 de julho de 2009, há exatamente 14 anos, Carmelindo Rodrigues assume o cargo de professor doutor na Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Uma experiência, segundo o próprio professor, de grande valia porque além de ser um emprego público federal, tinha como colocar em prática o objetivo dele como professor: ministrar aulas de qualidade, incentivar alunos/as na busca de conhecimentos, colaborar na administração e com os/as colegas professores/as para que o Campus fosse um grande sucesso em todas as dimensões. “Acredito firmemente que me empenhei para este objetivo, fiz o que me competia para que a meta fosse alcançada”, enfatiza.

Apesar da experiência dos anos de vida, foram muitos os desafios ao se mudar para uma nova cidade para assumir a função de professor. “Pessoalmente de estar começando, formalmente, a carreira docente com quase 61 anos”, apontou. Outra questão temida e bem conhecida do professor foi a discriminação racial. “Eu me sentia bem-preparado para a função que ia exercer, mas não deixava de conjecturar: Como os/as colegas professores/as vão ver um professor negro? Confesso que, neste tocante, a realidade foi bem favorável. Porém, não posso afirmar que não sofri nenhuma discriminação devido à minha cor, mesmo de forma não tão explícita”, pontuou Carmelindo.

Combate ao preconceito é uma das bandeiras na trajetória do professor, Carmelindo/Foto: Cedida

O professor conta ainda que o desafio cultural também não foi desprezível. “O Nordeste tem uma cultura muito rica e instigante. Porém é diferente da cultura mineira que eu estava mais acostumado. A cidade de Angicos, em 2009, não tinha um único lugar que servisse um café pela manhã. A cidade, ainda hoje, não é saneada (se utiliza de fossas sépticas). Atendimento médico precário e um trânsito crescentemente precário”, conta.

Com relação ao ambiente de trabalho, os dois primeiros anos do Campus (2009/2010), no improviso das acomodações no Colégio Padre Felix foram desafiadores. “No entanto, os alunos daquela época se mostraram muitíssimos interessados e estudiosos. Deixaram saudades. Quanto aos/as colegas professores/as, estávamos aprendendo a trabalhar em grupo. Os primeiros quatro anos foram de acalorados debates acadêmicos nas reuniões departamentais – um crescimento pedagógico” relembra.

Formatura em Tecnologia em Manutenção e Equipamentos, na Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP)/Foto: Cedida

VITÓRIAS – Para o professor Carmelindo Rodrigues a maior vitória foi se sentir fortalecido como professor. “Até à fatídica pandemia, nunca tive menos de 90 alunos por semestre. Minha avaliação pelos discentes, nunca foi inferior a 80% de aprovação. Neste último semestre a minha média foi de 90%”, comenta com orgulho o professor. Carmelindo também desempenhou atividades administrativas tendo sido o eleito o primeiro chefe de departamento em Angicos, que englobava todas as áreas, todos os professores. “Venci nas duas eleições. Durante minha gestão à frente do Departamento recebemos a visita do MEC para avaliação do Curso Bacharelado em Ciência e Tecnologia. O BCT/Angicos, devido este bom trabalho coletivo recebeu nota 5”, diz com orgulho.

O professor também trabalhou de forma contundente para a criação do Curso de Pedagogia em Angicos. “Sinto-me vitorioso em ter tido um projeto de pesquisa aprovado na renomada Universidade de Coimbra em Portugal e realizado o meu Pós-Doutorado com distinção. Tive uma supervisora altamente qualificada, Doutora Margarida Sobral Neto. A pesquisa foi muito boa, grande o aprendizado. Morar em Portugal por um ano foi um grande ganho”, considerou.

Lançamento do romance: Os Associados: uma luta contra a intolerância/Foto: Arquivo/Assecom

NEGRITUDE – A questão dos negros é outra temática na área de estudos do professor Carmelindo Rodrigues, inclusive, com a publicação do romance: Os Associados: uma luta contra a intolerância (2016). Trata-se de um romance contextualizado a partir de fatos históricos ocorridos no Século XIX. A obra aborda a questão dos negros africanos escravizados que tiveram importantes fatos históricos esquecidos pelos dominadores do poder.

“Finalmente os afrodescendentes, negros/as, estão chegando à Universidade. O número de alunos que se declaram pretos e pardos teve um bom crescimento. Porém, a desigualdade ainda permanece resistente”, avalia o professor que acredita que somente pela educação será possível alterar esse quadro de desigualdade entre brancos e negros. “Creio que a UFERSA começa a cumprir, nesse quesito de inclusão racial, o que se espera dela. No entanto, ainda há entre nós aqueles/as que são contrários a cotas raciais. Acho que é muito necessário que as programações semestrais das Semanas Pedagógicas tirem sempre um tempo para abordar este tema de forma positiva”, orienta o professor Carmelindo Rodrigues.

Professor Carmelindo recebe homenagem da Universidade/Foto: Assecom

APOSENTADORIA – Com a segunda aposentadoria, o professor Carmelindo tem novos planos. “Não pretendo continuar trabalhando, cumprindo horário semanalmente. Mas, pretendo continuar envolvido com a educação e em atividade literária”, adiantou. O próximo mês de agosto será o último como docente da UFERSA, em Angicos. Já na primeira semana de setembro, deve retornar para a cidade de Timóteo, em Minas Gerais. “Eventualmente poderei atuar em alguma atividade como colaborador, na educação e no trato com a questão racial – área que estou sempre disponível. Espero que Deus me conceda a oportunidade para visitar, revisitar algumas pequenas cidades de Minas Gerais. Este ano ainda, se possível, quero ir a Sabará chupar jabuticabas. Chegando aos 75 anos, nada muito ambicioso”, adianta o professor Carmelindo Rodrigues após ter a missão cumprida como docente da Universidade Federal Rural do Semi-Árido.

No último dia 28 de junho, a convite da direção do Campus Angicos, o professor Carmelindo ministrou Aula Inaugural de abertura do Semestre 2023. “Foi uma surpresa ver o grande número de professores e de estudantes no evento. Mas, minha surpresa maior: o carinho com que a direção, os professores e professoras organizaram e me homenagearam foi um fato que levarei para sempre em minha memória. Me surpreendi e me emocionei também com a presença da nossa reitora, a professora Ludimilla Serafim, que saiu de Mossoró para se juntar a homenagem que me foi prestada”, afirmou agradecido. Na ocasião, o professor Carmelindo Rodrigues recebeu uma Placa de Honra ao Mérito pelos relevantes serviços prestados pelo professor ao Campus Angicos.

Carmelindo recebeu uma Placa de Honra ao Mérito pelos relevantes serviços prestados pelo professor ao Campus Angicos/Foto: Assecom