A vontade de beneficiar a cidade natal de seus pais fez o enfermeiro Ismael Vinicius de Oliveira desenvolver uma pesquisa que acabou resultando na primeira patente obtida pela Universidade Federal Rural do Semi-árido (Ufersa). O objetivo era fabricar uma armadilha para insetos de baixo custo e com materiais reciclados, que pudesse capturar o vetor de uma doença ainda comum no município de Marcelino Vieira (RN): a Doença de Chagas, transmitida pelo barbeiro.
O curso escolhido foi o Mestrado em Ambiente, Tecnologia e Sociedade, para o qual ele foi aprovado no início de 2019. “A ideia surgiu basicamente na cozinha da minha casa”, lembra Vinicius. “Eu sabia que iria criar algo sustentável, mas meu irmão, que é engenheiro, me motivou a procurar soluções tecnológicas que acabaram tornando a ideia bem mais interessante para a obtenção de uma patente”.
No início deste mês de maio, o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Ufersa foi notificado pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) de que o pedido de patente depositado há apenas 27 meses, em janeiro de 2021, teria a carta-patente concedida. O documento oficial chegou à universidade no dia 30 de maio, garantindo que a tecnologia criada possa ser explorada em benefício da sociedade com o aval da Ufersa (veja o documento no final da página).
A história da pesquisa
Da primeira proposta de 2019 até o depósito da patente, muitos detalhes foram acrescentados e aperfeiçoados com o apoio de dois pesquisadores da Ufersa: a professora Ana Carla Diógenes Suassuna Bezerra, e o professor Francisco Silvestre Brilhante Bezerra, orientadora e co-orientador do mestrado de Ismael Vinícius, que é egresso do Programa de Pós-graduação em Ambiente, Tecnologia e Sociedade (PPGATS/UFERSA).
Silvestre Brilhante, que já atuou por três anos como Coordenador de Propriedade Intelectual do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Ufersa, lembra de uma ideia importante ocorrida logo no início da orientação. “Desde as primeiras versões da armadilha criada por Vinícius, nós percebemos que a inserção de recursos tecnológicos poderia ser um diferencial decisivo para a obtenção da patente”.
É aí que entra a conversa que Vinícius teve com o irmão na cozinha de casa. Por ser engenheiro eletricista, ele sugeriu o desenvolvimento de um software que permitisse a qualquer usuário acessar e monitorar informações sobre a armadilha mesmo a quilômetros de distância. “Ao longo da pesquisa nós fomos adicionando uma série de aplicações que tornaram o protótipo mais automatizado e tecnológico”, destaca ele, que atualmente cursa o doutorado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema), também na Ufersa. Um outro passo importante foi o desenvolvimento de um sistema que capta energia solar durante o dia e é acionado à noite, por meio uma luz de LED de baixo consumo que atrai os insetos para a armadilha.
Os testes em Marcelino Vieira
“Quando eu vi aquele aluno chegando na minha sala com um pote gigante de margarina, eu não entendi nada”, lembra a professora Ana Carla. “Então ele me explicou que ia criar uma armadilha para insetos e eu disse que já existiam muitas. Só que a resposta dele ficou na minha cabeça”. “Eu disse que nenhuma era como a minha”, conta Vinícius.
De fato, não era. Além do pote de três quilos de margarina, uma bateria de moto, lâmpadas LED e algumas garrafas plásticas também faziam parte das matérias primas utilizadas na armadilha.
O local escolhido para os testes foi uma área rural de Marcelino Vieira, onde há histórico de contaminação pelo mosquito barbeiro. “Infelizmente a contaminação oral ainda é pouco divulgada quando se fala em Doença de Chagas”, diz Vinícius. O volume de insetos capturados, sendo a maior parte deles barbeiros, mostrou que a pesquisa estava no caminho certo. O trabalho em campo durou um ano – de setembro de 2019 a setembro de 2020 – mas foi suficiente para reunir dados sobre a capacidade de captura da armadilha, seu funcionamento e possibilidades de aplicação em larga escala.
Os critérios para a concessão de uma patente
Para ser considerado patenteável, destaca o professor Silvestre, um invento precisa atender aos critérios de novidade, aplicação industrial e atividade inventiva. “Nós tivemos que provar, durante o registro, que realmente ainda não havia nenhuma proposta como essa”. Isso foi possível, de acordo com ele, pela realização de um trabalho prévio muito bem feito, que é essencial no processo de obtenção de uma patente: um relatório de busca de anterioridades.
“Nós tivemos que consultar bases de dados de patentes para saber se a ideia realmente era nova e se ninguém em nenhuma parte do mundo havia descrito algo parecido”, diz o pesquisador. “A ideia inicial do Vinícius, por exemplo, de construir uma armadilha sustentável, já havia sido depositada como patente. Então o incremento da tecnologia foi um diferencial que veio desse levantamento”.
O registro da patente
Como em qualquer universidade, o depósito de uma patente precisa passar necessariamente pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da instituição. No caso da Ufersa, o NIT é a referência para orientação, registro e acompanhamento dos depósitos.
Mas uma vez que o depósito é submetido para exame do INPI, não há como prever quando e se a patente será concedida. “Eu mesmo tenho 23 patentes depositadas, sendo a primeira delas em 2015, e ainda não tinha recebido uma carta-patente. Isso demonstra o quão demorado o processo pode ser”, diz o professor Silvestre. “Não é comum termos uma resposta num prazo tão curto como tivemos nesta primeira patente da Ufersa. Com certeza o trabalho prévio bem executado e a solicitação de trâmite prioritário para Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) foram decisivos para a celeridade do processo”.
Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Ambiente, Tecnologia e Sociedade – PPGATS emite Nota de Felicitações pela conquista da primeira patente da Ufersa. Leia AQUI
(Atualização em 13/06/2023)