Ao longo de 13 horas seguidas, em abril de 2022, quatro mulheres atuaram como protagonistas em uma sala de cirurgia do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). As cirurgiãs Lavinia Sousa, Geovana Ribeiro e Cibelle Uchoa, e a anestesista Kassia Damasceno formaram a primeira equipe exclusivamente de mulheres a realizar um procedimento de Laparotomia Exploratória na instituição.
As residentes do Hospital Veterinário realizaram dois procedimentos em equinos afetados pela Síndrome Cólica. “É um distúrbio gastrointestinal muito frequente, considerado a enfermidade que mais mata cavalos no mundo. Ocorre por diversos fatores, sendo a alimentação o principal”, explica Lavínia Sousa, residente de Nível 2 (R2).
Lavínia relatou os procedimentos realizados no dia, que, por sua longa duração, não permitiram que o grupo se alimentasse durante o dia. “A primeira cirurgia foi a de Laparotomia exploratória, que é uma modalidade cirúrgica abdominal com fim diagnóstico. A outra foi uma herniorrafia incisional, considerada mais complexa, pois o paciente teve reação tecidual aos fios cirúrgicos de outra cirurgia abdominal e perdeu parte da musculatura da região”.
Historicamente, mulheres por todo o mundo vêm lutando para ocupar e garantir visibilidade nas mais diversas profissões. Além de enfrentar os desafios usuais do percurso acadêmico, tais profissionais constantemente têm suas habilidades questionadas, com motivações baseadas em preconceito de gênero. A operação realizada em abril é apenas uma das muitas realizações que demonstram a potência feminina de assumir o protagonismo nas universidades.
“Apesar de ser um grande desafio, ficamos orgulhosas de ver onde estamos e o que somos capazes de fazer. Estamos falando de um paciente de quase meia tonelada, forte e naturalmente reativo, por estar passando por um processo doloroso”, revela Kassia Damasceno, pós-graduanda em Anestesiologia no curso de Medicina Veterinária da UFERSA.
Segundo as pesquisadoras, a área dedicada ao cuidado de animais grandes recebeu um aumento na presença feminina recentemente. A médica veterinária Lavínia Sousa relata que o grupo de cirurgiãs já havia passado por experiências constrangedoras ao lidar com proprietários de animais no hospital, que rejeitaram o atendimento das profissionais por questões de gênero. “Embora nosso espaço tenha crescido, ainda há muito preconceito a enfrentar, tanto dentro do HOVET quanto no trabalho em campo”, adiciona.
Na perspectiva de Lavínia, a importância da ocupação feminina em espaços acadêmicos e profissionais pode ser vista “todos os dias, principalmente nessa área de trabalho que ainda é tão machista. Hoje temos mulheres exemplares trabalhando na área e que estão conseguindo espaço, embora as situações ocorram longe de nossos ouvidos”.
Após cerca de um ano da data do procedimento, a força de vontade e as ambições das profissionais continuam as mesmas. As quatro veterinárias aspiram trabalhar com dedicação, independentemente de suas áreas ou espécies tratadas.
A luta por reconhecimento e visibilidade das mulheres vai além dessa cirurgia ou de homenagens no Dia Internacional da Mulher. Conforme ressalta Kássia, “continuaremos a ocupar e abrir novos espaços para que mais mulheres ocupem também. Hoje trabalhamos pelas que virão, pleiteamos respeito e reconhecimento justo para que as próximas já os tenham”.