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Comunicação

Comunidades quilombolas do Pêga e Arrojado, em Portalegre, precisam ser vistas

Extensão, Gestão 21 de setembro de 2021. Visualizações: 1650. Última modificação: 22/09/2021 10:06:16

Nas duas comunidades quilombolas de Portalegre, na Região Serrana do RN, o secretário de Políticas de Promoção a Igualdade Racial, Paulo Roberto,viu a realidade da população de pretos e levou muitas reivindicações/Foto: Passos Jr

Dar visibilidade a um povo invisível ao olhar do poder público e da sociedade. Essa tem sido a proposta da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) ao apresentar projetos de extensão universitária que serão desenvolvidos nas comunidades quilombolas do Pêga e Arrojado, localizadas no município de Portalegre, distante 35 Km do Campus Pau dos Ferros e 138 Km do Campus Sede, em Mossoró.

Alguns projetos já tramitam no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. “A ideia é trabalhar com educação, saúde e agricultura familiar”, adiantou a reitora Ludimilla Oliveira ao visitar as duas comunidades, acompanhada do Secretário Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Paulo Roberto. “Trazer o Secretário representa o compromisso da Universidade com a questão das minorias”, pontuou a professora. A proposta é realizar trabalhos com quintais produtivos, atendimentos de saúde por meio de UBS móvel, além de oferecer atividades educativas com cursos de inclusão digital. Atualmente, a Ufersa já desenvolve trabalho de pesquisa em Portalegre, numa parceria com a Prefeitura, voltado para a cultura do alho, beneficiando pequenos agricultores familiares.

Reitora quer levar projetos de extensão da Ufersa para as comunidade quilombolas de Portalegre/Foto: Passos Jr

Mesmo sendo uma das cidades mais antigas do Rio Grande do Norte, estando prestes a completar 260 anos, Portalegre parece ter parado no tempo quando se trata das comunidades remanescentes de quilombos. “A nossa cidade tem um grande débito com as comunidades quilombolas”, reconhece o prefeito do município José Augusto Rêgo, com a esperança que a presença da Universidade possa contribuir para melhorias das políticas públicas voltadas para a comunidade de negros remanescentes do povo que um dia foi escravizado.

Preconceito com os pretos existe, diz Creuza/Foto: Passos Jr

“Ainda sofremos racismo por sermos negros, pobres e sem recursos”, afirmou Creuza Delmiro, citando como exemplo o episódio lamentável ocorrido na cidade de Portalegre, quando o jovem Luciano Simplício, descendente quilombola, foi covardemente espancado. “Infelizmente o racismo é uma realidade no Brasil, mesmo com toda luta, força e garra do povo negro”, reconhece. Creuza diz que um caso como esse não deveria acontecer.

 

População viu com esperança a visita nas comunidades/Foto: Passos Jr

A VISITA – O deslocamento dos visitantes às comunidades quilombolas de Portalegre representou esperança. “Aqui o povo carece de tudo: saúde, educação, transporte, moradia, trabalho”, pontuou a concluinte do curso de Licenciatura em Educação do Campo da Ufersa, Luiza Maria Oliveira. A universitária desenvolve trabalho voluntário na comunidade. “Vejo com esperança de bons frutos e que deixa a população com muitas expectativas”, afirmou.

Sempre fomos esquecidos, diz Alzerinda Alves, líder comunitária mais antiga/Foto: Passos Jr

As dificuldades mencionadas pela futura professora foram confirmadas pela líder mais idosa da comunidade do Arrojado, dona Alzerina Alves Ribeiro, de 86 anos. “Nunca tivemos direito a nada, sempre fomos esquecidos pelas autoridades, sentimos falta até de um bom dia”, reclamou. Há mais de 59 anos morando no Pêga, quando casou com um quilombola, a idosa diz que foi a primeira vez que viu uma reitora e um secretário na comunidade quilombola.

Eudizes Bevenuto se apega com São Gonçalo e preserva a cultura/Foto: Passos Jr

Apesar da dura realidade, os descendentes de quilombos receberam os visitantes com festa, sob a proteção de São Gonçalo, o Santo protetor dos quilombos. A matriarca do Pêgas, Eudizes Bevenuto, de 85 anos, conduziu a dança de São Gonçalo com alegria, fé e esperança em dias melhores para todo o seu povo.

“A nossa luta não é passiva, porém, pacífica. Queremos justiça. As nossas pautas continuam sendo silenciadas. Não há investimentos apropriados para o que precisamos dentro das comunidades quilombolas. Ainda existe um vácuo no currículo das escolas com relação às políticas públicas de ações afirmativas”, reivindicou a professora Ilância Jacinta, professora negra e ativista nas questões étnico-raciais.

Ilância Jacinta, professora negra e ativista nas questões étnico-raciais/Foto: Passos Jr

Sensível às questões apresentadas pelos moradores do Pêgas e Arrojado, o Secretário Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Paulo Roberto, reconhece na pele, como homem preto, o problema do preconceito vivenciado pela população de pele escura. “Segundo dados do IBGE, somos 56% da população, mesmo assim, fomos esquecidos, como um elefante jogado debaixo do tapete”, exemplificou.

Secretário Paulo Roberto promete retornar com benefícios/Foto: Passos Jr

Um povo que, na opinião do Secretário, ficou invisibilizado. “O nosso papel é mudar essa realidade, fazer cumprir o Artigo 3 da Constituição Federal que trata da promoção da igualdade. Essa não é uma causa só da população negra, é uma luta de todas as pessoas”, frisou.

Para a população quilombola de Portalegre, o Secretário Paulo Roberto se comprometeu a levar para Brasília as necessidades relatadas e, muito em breve, trazer o bem público que as comunidades tanto precisam. “Vamos voltar com benefícios, cuidarei das demandas que a Prefeitura e a Universidade enviarem”, garantiu Paulo Roberto aos quilombolas.