Projeto de Extensão Cinema na Minha Comunidade percorreu quatro comunidades rurais proporcionando acesso a Sétima Arte para jovens estudantes/Foto: Eduardo Mendonça
Quanto mais o cinema for acessível maior interesse despertará nas pessoas. Como forma de levar a Sétima Arte para comunidades longínquas, a Universidade Rural do Semi-Árido desenvolve o Projeto de Extensão Cinema na Minha Comunidade. Trata-se da expansão de outro desenvolvido na Universidade, o CineBiblio, que acontece desde 2018 nas dependências do Campus da Ufersa Mossoró, com as sessões de cinema acontecendo no Auditório da Biblioteca Orlando Teixeira, voltado para a comunidade acadêmica e também para estudantes de escolas públicas.
Diferencial do projeto é que a maioria do público sequer imaginava como era a projeção de um filme na parede/Foto: Eduardo Mendonça
“O desejo de circular com esse Projeto nos fez estendê-lo com o Cinema em Minha Comunidade com a proposta de democratizar o acesso ao cinema nas comunidades rurais”, justifica a coordenadora do CineBiblio, a bibliotecária Marilene Araújo. A primeira Mostra realizada na primeira semana de novembro beneficiou 412 estudantes de quatro comunidades rurais da Região Oeste do Rio Grande do Norte.
Durante uma semana, a Mostra passou pelas comunidades rurais: Maísa, em Mossoró; Permissão, em Janduís; Cachoeira, em Caraúbas e, a Comunidade Quilombola Jatobá, em Patú, com as exibições acontecendo em escolas dessas comunidades. Após cada exibição, os integrantes do Projeto Cinema na Minha Comunidade mediavam um ‘bate papo’ com os estudantes sobre a mensagem deixada pelo filme. “Esse resultado de aguçar a capacidade reflexiva das crianças por meio do cinema foi bastante significativa ao constatarmos que eles prestaram muito atenção e souberam captar a mensagem” opinou a coordenadora do Projeto Cinema na Minha Comunidade, a bibliotecária Cleide Rodrigues de Souza.
Bibliotecária, Cleide Rodrigues, coordenadora do Projeto Cinema na Minha Comunidade/Foto: Eduardo Mendonça
Ainda segundo a bibliotecária da Ufersa a recepção nas comunidades foi excelente. “Ao visitar as comunidades percebemos que quanto mais carente, maior foi o impacto da ação e, a Universidade, enquanto extensão precisa está sensível às necessidades tão especificas da zona rural”, acredita. A Mostra ocorreu graças edital de extensão lançado pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Ufersa, tendo sido aprovado em primeiro lugar.
As temáticas foram escolhidas levando em consideração a realidade social da comunidade, “instigando nas crianças e adolescentes que sonhar é possível e a educação é o melhor caminho para trilhar e vencer na vida” pontuou Marilene Araújo. O diferencial de projeto é que a maioria do público sequer imaginava como era a projeção de um filme na parede. Ao todo, foram oito exibições com projeção multimídia. Alguns familiares dos estudantes também tiveram a oportunidade de assistir um filme no formato de cinema pela primeira vez.
Unidade de Ensino Rural da Comunidade Quilombola Sítio do Jatobá/Foto: Eduardo Mendonça
QUILOMBOLA – A Comunidade Quilombola Sítio Jatobá que fica a 12 km de Patú, foi à última a receber a primeira Mostra Cinema na Minha Comunidade, com a sessão de cinema acontecendo na Unidade de Ensino Rural Lauro Maia. Na plateia crianças da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I. “Essa iniciativa só vem a contribuir para o acesso dessas crianças ao lazer, pois somos muito desassistidos”, opinou a diretora Ozilene Tavares. Segundo ela, os estudantes não têm acesso às novas tecnologias, mas é uma necessidade na comunidade. “Hoje, verificamos uma mudança no que se refere à concepção da vida na zona rural” afirmou. Na Comunidade Quilombola Sítio Jatobá são 46 famílias vivendo basicamente da agricultura de subsistência familiar.
A notícia de que haveria um cinema na escola tirou o sono de muitas crianças que não viam a hora de chegar o grande dia. “Eles (as crianças) e eu também ficava só imaginando como seria assistir o cinema”, confessa Maria Kaliane Aquino Andrade, que nos seus 32 anos de vida, nunca havia tido a oportunidade de assistir ir ao cinema. “Achei muito interessante e tenho certeza que as crianças também gostaram” opinou.
Juliana Alves, gostaria de computadores e uma biblioteca na escola/Foto: Eduardo Mendonça
Durante quase duas horas de exibição do filme Os Incríveis 2 as crianças não tiravam os olhos da tela. “Acredito que essa manhã foi marcante e será inesquecível” afirmou a professora, Jéssica Alves Mata, ao agradecer o momento oportunizado pela equipe da Universidade. A merendeira da escola, Sandra da Silva, também agradeceu a oportunidade de conhecer o cinema aos 40 anos de vida. “Nunca fui ao cinema, então, trazer até nós foi muito bom” disse.
Além do filme, o projeto proporciona pipocas, sucos e alguns brindes para as crianças. “Gostei muito. A violeta é uma super-heroína que ajuda a família” afirmou Talita Medeiros, de oito anos, se referindo à história do filme. Já Juliana Aquino Alves, de seis anos, comentou que “devemos ajudar as pessoas, o pai, a mãe”.
A história abordada na película é sobre uma família de super-heróis, onde a mãe, a mulher elástica, recebe a missão para salva o dia, é o pai, o Senhor Incrível, o desafio cuidar dos filhos. Para a menina Juliana, se ela tivesse superpoderes, como os personagens do filme, ela faria com que a escola dela tivesse uma sala com computador e uma biblioteca, mas como superpoderes só existem na ficção, fica aqui o registro do sonho duma criança quilombola do município de Patú.