
Durante a visita ao curso de medicina da Ufersa, o professor Emerson Menhy, da UFRJ, se reuniu com professores e estudantes /Foto: Eduardo Mendonça
Numa passagem rápida por Mossoró, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Emerson Elias Menhy, fez questão de conhecer o curso de medicina da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Na visita, o professor pôde trocar ideias com os acadêmicos e professores. Para o visitante, a nova perspectiva na formação de médicos adotada pela Ufersa dentro do sistema de saúde motivou a visita. O professor Menhy é uma das maiores autoridades na área de saúde coletiva do país.
O curso de medicina da Ufersa tem um modelo diferenciado do tradicional possuindo característica mais humanista. O desafio maior é formar profissionais médicos voltados para o fortalecimento da atenção básica. O curso é formulado em três eixos: o integrador, que compreende a base tecnicista; o de desenvolvimento de pessoal, que inclui as humanidades médicas, e o eixo atenção primária, que compreende conhecimentos sobre a realidade da região.
Para o professor que tem 45 anos de experiência na área médica, a maior aprendizagem é conciliar a saúde, um campo de alta complexidade e que exige uma diversidade de conhecimentos, o saber científico propriamente dito, com o saber do outro para enfrentar os problemas e sofrimentos das pessoas. “O saber popular, trazido pelos pacientes, ou seja, o ouvir tem altíssima qualidade também. É atribuição do médico promover esse encontro, aumentar a competência na promoção desses dois saberes”, considerou.
O professor entende que o campo da saúde é antes de tudo o campo do cuidar. Para ele, a prática mais nobre na área da saúde. O Dr. Emerson Menhy explicou que o ato de cuidar pressupõe a capacidade de entender o outro, de ter boas respostas aos problemas do outro de forma científica, somadas com a capacidade de acolher, de escutar, de entender e de compreender. “Esse é o mundo do cuidado”, resumiu.
Defensor do Sistema Único de Saúde, o professor considera o SUS uma oposta brasileira muito original para a assistência da saúde no país. “O SUS o único sistema de cuidado no Brasil que tem de fato o tema proteção na promoção de encarar todas as vidas como fundamentais”. O professor afirma ainda que os demais setores, como o privado, não trabalha com essa perspectiva. “Aí prevalece o cuidado individual, o interesse comercial”, afirmou. Segundo Dr. Menhy o SUS é fundamental para entender o cuidado de forma integral com a promoção e a proteção da vida na coletividade.
O professor alertou para o risco que corre o SUS na atual conjuntura. “O desmonte do SUS representa uma ameaça para a precarização do cuidado”, pontuou. Atualmente, dezenas de milhões de brasileiros dependem do SUS para curar os seus problemas imediatos. Dados estatísticos apontam que dos mais de 200 milhões de brasileiros, 150 milhões são dependentes da capacidade do SUS para manter a oferta de cuidados e resolver o problema da população.
Diante desse quadro, em que a maioria da população brasileira carece de cuidados, o professor aconselha aos jovens acadêmicos de medicina, a colocarem a profissão a serviço da vida do outro. “Acredito que essa é a tarefa mais nobre que a medicina deveria ter, nem sempre ela segue, mas essa é a minha palavra de ordem, colocar o fazer médico a serviço da vida de qualquer um”, aconselhou.