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Comunicação

Pesquisa da Ufersa comprova mortes de abelhas africanizadas por agrotóxicos

Pesquisa 3 de janeiro de 2019. Visualizações: 4824. Última modificação: 08/01/2019 10:08:59

Pesquisadores durante aula prática de manejo com abelhas africanizadas| Foto: Daiana Sombra.

Pesquisador Dayson Castilhos ao lado do professor da Ufersa, Jeferson Dombroski / Foto Yuri Rodrigues Assecom

O desaparecimento das abelhas vem preocupando criadores e pesquisadores em apicultura em todo o mundo. Estudos recentes revelam que o Brasil lidera a lista global de perdas de colônias de abelhas. Uma dessas pesquisas, feita na Universidade Federal Rural do Semi-Árido – Ufersa, com abelhas africanizadas (Apis melífera), reforça a tese de que as abelhas estão morrendo por envenenamento provocado em decorrência do uso dos agrotóxicos na produção agrícola. O estudo revelou uma quantidade muito elevada de pesticidas nas abelhas mortas. Ao todo, a pesquisa detectou, por meio de amostras, 13 tipos de agrotóxicos. O estudo evidencia que a maior parte das denúncias sobre o envenenamento de abelhas por agrotóxicos é real.

A tese “Desaparecimento e morte de abelhas no Brasil, registrado no aplicativo Bee Alert” defendida por Dayson Castilhos, no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Ufersa, objetivou determinar as concentrações dos agrotóxicos em abelhas africanizadas mortas com suspeita de envenenamento. Das amostras coletadas, 100% apresentaram contaminação por pesticidas. Para a coleta das amostras, 38 no total, o critério utilizado foi à morte maciça de abelhas no interior das colmeias, no chão da entrada dos apiários ou abelhas agonizando perto de uma colmeia. A tese teve a orientação do professor Lionel Gonçalves, um dos maiores pesquisadores de abelhas na América Latina.

A tese defendida por Dayson verificou as concentrações dos agrotóxicos em abelhas africanizadas mortas com suspeita de envenenamento / Foto Yuri Rodrigues

A pesquisa teve abrangência nacional e contemplou os estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina. “Após a coleta das colmeias, as amostram foram trazidas para o laboratório da Ufersa que dispõe de equipamento espectrometria de massa que quantifica a contaminação nas abelhas”, explicou Dayson Castilhos. Nas amostras, a maior frequência de resíduo de agrotóxico encontrado foi fipronil, com 68,4%. Essa substância é apontada pelos pesquisadores como a principal causa de envenenamento das abelhas. Também foram encontrados resíduos de tiametoxam (42,1%), imidaclopride (28,9%), acetamipride (5,3%), nitenpiram (5,3%) e, tiaclopride (2,6%), dentre outros.

“Os resultados das análises das 38 amostras foram surpreendentes e apresentaram altos índices de frequência de detecção dos agrotóxicos fipronil e neonicotinóides”, revelou o pesquisador. Outra constatação é que a carga de agroquímicos suportada pelas abelhas analisadas é alarmante. “As contaminações por resíduos de agrotóxicos nas abelhas têm uma dimensão muito maior do que estimamos”, acrescentou.

Após a coleta das colmeias as amostram eram trazidas para o laboratório da Ufersa que dispõe do equipamento espectrometria de massa que quantifica a contaminação nas abelhas / Foto Yuri Rodrigues

Para identificar e quantificar os resíduos de agrotóxicos em amostras de abelhas mortas (extrato líquido dos insetos), os pesquisadores da Universidade utilizaram a cromatografia líquida de alto desempenho combinada com espectrometria de massa tiplo quadrupolo. As análises foram realizadas no Laboratório de Eco-fisiologia Vegetal do Departamento de Ciências Vegetais da Ufersa e no Laboratório EdiLab, em São Paulo. Segundo Dayson, o método utilizado foi o QuEChERS que significa o acrônimo das palavras inglesa: rápido, fácil, barato, eficiente, robusto e seguro. “Confirmar a presença de agrotóxicos nos polinizadores é o melhor bioindicador da saúde do ecossistema. A análise nas abelhas vem comprovar essa contaminação do meio ambiente”, concluiu.

Para o professor Jeferson Dombroski, do Departamento de Ciências Vegetais da Ufersa, o trabalho tem a sua importância ao comprovar uma informação que já faz parte do imaginário de grande parte da população de que o homem está contaminando o meio ambiente com agrotóxico. “A pesquisa traz o problema para a realidade ao provar cientificamente as denúncias de que colônias de abelhas estão sendo mortas por agrotóxicos”, pontua.

O professor acrescenta que esse problema é generalizado no país, independentemente da região. “Se existe esse descuido, está havendo um problema que temos que pensar com cuidado que é o envenenamento do planeta”, alerta. Ainda segundo Dombroski, os resultados apresentados da pesquisa do Dayson representam uma evidência palpável, analisada em laboratório, do que está acontecendo atualmente com o uso errado e/ou indiscriminado de agrotóxicos culminando na morte das abelhas.

“São resultados científicos que comprovam que o homem está dizimando a biodiversidade”, considerou. Para o professor, o apicultor é o lado fraco dessa história uma vez que, normalmente, é ele que leva as abelhas para polinização das flores. “Se o apicultor perder a colmeia não afeta o fruticultor, nem os grandes produtores de frutas. O prejuízo fica com o apicultor”, afirmou. O professor ressalta que na fruticultura de exportação o controle na aplicação dos agrotóxicos é mais rígido. Os fundos para a execução da pesquisa foram doados pela ONG inglesa EVA CRANE TRUST, atrás da conta ECTA 20170301 GREMACHO, administrada pela professora da Ufersa, a professora Kátia Peres Gramacho, do Centro de Ciência Animal.