Alunos da graduação e da pós-graduação, juntamente com professores da área de Ciências do Solo da Ufersa, realizaram na última semana ações para lembrar a importância de preservar o solo que gera alimento e garante vida ao planeta. A iniciativa foi para lembrar o Dia Mundial do Solo que é comemorado em 5 de dezembro.
Para lembrar a data, os pesquisadores de solo da Ufersa organizaram 2 dias de campo com viagens para as regiões serrana e litorânea do oeste potiguar. A viagem percorreu dois trechos, o primeiro observando solos desde a região oeste do estado até a formação serrana de Portalegre e outro trecho observando solos da região do médio oeste até a costa litorânea. Nos encontros, alunos e professores puderam observar diferentes classes de solo do estado e discutir sobre suas principais potencialidades e limitações.
A professora Carolina Malala do Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas esteve a frente da ação e comentou sobre a importância da iniciativa justificando que 2015 foi escolhido pela ONU como o ano do solo. “No dia 5 de dezembro é comemorado o Dia Mundial do Solo, todos os países e entidades ligadas a Ciência do Solo dedicam este dia a práticas de campo e discussões voltadas para o uso, manejo e conservação do solo no mundo. De modo especial, a ONU declarou que 2015 seria o Ano Internacional do Solo, na tentativa de chamar a atenção da sociedade para este bem essencial a vida”, justificou a professora Carolina.
Segue abaixo, a transcrição de uma carta escrita pelo Dr. Gonçalo Signorelli de Farias, pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. Na carta, o pesquisador exprime o sentimento dos cientistas e o desejo de manter vivo o solo.
Por que comemorar o dia mundial do solo?
Neste dia 5 de dezembro, a FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, realiza uma sessão especial em sua sede, em Roma, com o tema “Securing healthy soils for a food secure world” (“Garantindo solos saudáveis para um mundo seguro em alimentos”). Este evento acontece no Dia Mundial do Solo, proposto pela União Internacional de Ciência do Solo e endossado pela própria FAO para ser uma referencia na agenda ambiental dos povos.
As discussões sobre as relações homem-natureza ainda estão muito focadas em clima e água, mas pouco se fala sobre o solo como meio capaz de sustentar a vida no planeta e que encontra-se ameaçado também por ações do homem em práticas predatórias. O Solo fundamenta a vida no planeta pelas funções que lhe são inerentes. É base para produção de alimentos, fibras e energia; sustentáculo de cidades e infraestrutura de transportes; fonte de matérias-primas e biodiversidade; suporte dos grandes ciclos biogeoquímicos; filtra e transforma resíduos; atua como reservatório de água e ainda mantém o registro histórico da evolução do planeta. Mas não tem sido bem cuidado. O Brasil, por exemplo, perde milhões de toneladas de solo anualmente nos diversos sistemas de uso desse recurso natural e cuja imagem mais recorrente é a de rios impregnados de sedimentos.
Num planeta que abriga 7 bilhões de habitantes, essa camada que recobre o globo é um sistema complexo não-renovável quando medido na escala antropológica do tempo. Nosso país, em seus 851 milhões de hectares de área territorial, possui centenas de tipos de solos. Descontando-se a área coberta por águas, os solos brasileiros se estendem por 835 milhões de hectares, onde as lavouras e pastagens ocupam cerca de 40%, as florestas e áreas protegidas cerca 50 % e os 10 % restantes se referem a cidades, estradas, etc. Do ponto de vista quantitativo são números que impressionam.
As constatações mostradas acima já fazem sentido para justificar a existência de um dia especialmente dedicado ao Solo. Então, será que não estaria na hora de restituir aos solos seu papel fundamental no campo das preocupações ambientais e do desenvolvimento sustentável? Imprensa, governos, gestores ambientais e até professores de escolas básicas precisam colocar o solo na pauta de suas percepções, ações e compromissos.
A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) é uma das mais antigas organizações científicas brasileiras. Fundada em 1947 e atualmente sediada no Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa-MG, possui cerca de mil sócios em todo o país que atuam como pesquisadores, técnicos e professores da Ciência do Solo. Publicando artigos ou produzindo eventos, seu papel é mostrar que a ciência, a tecnologia e a inovação estão disponíveis principalmente para a prática de uma agropecuária comprometida com a conservação do solo e a sustentabilidade ambiental. Conhecimento especializado não falta ao Brasil. A SBCS tem buscado ações políticas para que a sociedade e suas governanças coloquem o solo no foco das questões ambientais. Mas é preciso que haja mais comprometimento dos agentes que traçam os rumos das tais políticas. A ação da FAO demonstra uma preocupação internacional. Falta agora trazê-la para o Brasil, se quisermos mesmo continuar sendo a promessa de abastecimento agrícola para o mundo. Os dados científicos de degradação do solo por erosão e práticas inadequadas de uso e manejo demonstram que este não é mais um problema que demanda soluções no futuro breve, mas sim no presente!
Gonçalo Signorelli de Farias