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Comunicação

Ufersa recebe primeiro astronauta brasileiro durante Feira de Ciência do Semiárido

Estudante, Extensão, Pesquisa 6 de outubro de 2015. Visualizações: 3319. Última modificação: 30/05/2020 23:02:11
Marcos Pontes foi o primeiro astronauta do Hemisfério Sul a chegar ao Espaço com a bandeira do seu País |Crédito: Cedida/Assessoria MP

Marcos Pontes foi o primeiro astronauta do Hemisfério Sul a chegar ao Espaço com a bandeira do seu País |Crédito: Cedida/Assessoria MP

Quando criança, Marcos Pontes sonhava em conhecer o espaço. Certamente, esse desejo não fez dele uma criança diferenciada, afinal quem nunca nutriu o sonho de, pelo menos, voar? A diferença, no entanto, é que as oportunidades e o foco nos estudos o tornaram o primeiro astronauta brasileiro a chegar no Espaço.

Nascido em março de 1963, na cidade de Bauru/SP, Marcos Pontes é o caçula na fileira de outros dois frutos do casamento entre seu Vergílio e dona Zuleika, que, juntos, criaram os filhos com os proventos de servente de serviços gerais no Instituto Brasileiro do Café e como escriturária da Rede Ferroviária Federal.

O caminho traçado até chegar a ida ao Espaço é longo e, sem exagero na metáfora, pode se dizer que começou ainda na infância com as primeiras pedaladas de bicicleta ao percorrer todo fim de semana a estrada rumo ao aeroclube da cidade, apenas para observar os aviões. Sem dinheiro para pagar as horas de voo, estipulou como meta a carreira na Força Aérea Brasileira (FAB).

Um voo espacial é muito “especial” no sentido de nos trazer mais perto das pessoas e depois de nos levar bem longe delas

Marcos Pontes
Concluiu o segundo grau profissionalizante no SENAI, conciliando os cursos de Eletromecânica e Eletricista com o trabalho de aprendiz na Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Passou em segundo lugar nacional no vestibular da Força Aérea Brasileira e, depois de 4 anos de curso, graduou-se como Aspirante Aviador e ainda concluiu a formação de Piloto de Caça no Grupo de Aviação na Base Aérea de Natal – RN.

Trocou a carreira de Militar pela de astronauta quando, em 1998, a Agência Espacial Brasileira (AEB) lançou concurso público para selecionar o primeiro brasileiro a integrar o Programa da Estação Espacial Internacional (ISS) que o país assinara com a Agência Espacial Americana – NASA. Esse fora o primeiro passo para a Missão Centenário, na qual Marcos Pontes “embarcou”, em 2005, como Especialista de Missão, o que pode ser entendido como um engenheiro de voo.

Na entrevista concedida ao Portal Ufersa, o astronauta fala dos desafios de chegar ao Espaço e ainda faz uma avaliação dos rumos da política espacial do Brasil 10 anos depois da empreitada que o tornou no primeiro astronauta profissional do Hemisfério Sul a chegar ao Espaço com a bandeira do seu País.

Na Estação Espacial, "brinca" com a gravidade zero | Crédito: Cedida/Assessoria MP

Na Estação Espacial, “brinca” com a gravidade zero | Crédito: Cedida/Assessoria MP

Portal Ufersa – Quando o senhor estava na estação espacial, gravou um vídeo afirmando que aquele momento marcaria “o início de uma nova era para o Brasil”. Passados quase 10 anos, o que se pode apontar como legado para o Brasil da sua ida ao Espaço?
Marcos Pontes – Eu acreditava que o Programa Espacial Brasileiro pudesse ter mais apoio das nossas autoridades. Não aconteceu da maneira que eu esperava. Contudo a Missão Centenário foi o projeto da história do Programa Espacial Brasileiro com melhor custo beneficio. Basta ver os resultados científicos alcançados e os lucros resultantes (o ROI da missão foi excelente). No final do meu livro Missão Cumprida, comento cada um dos resultados da missão nos diversos campos.

PU – O Senhor consegue lembrar-se da primeira vez que viu a Terra?
MP – Lembrei muito das palavras de minha mãe quando eu era adolescente. Eu descrevo essa mudança com detalhes no capitulo 77 do meu livro Missão Cumprida.

PU – Se fizermos um balanço da nossa Política Espacial, quais são os princípios que a norteiam?
MP – Difícil dizer no momento atual. Temos muita interferência política nos programas de Ciência e Tecnologia, o que causa flutuações e pouca aderência a princípios ou planejamento de longo alcance.

Na Missão Centenário, Marcos Pontes era responsável pelo funcionamento do sistema, atuando como engenheiro de voo|Crédito: Cedida/Assessoria MP

Na Missão Centenário, Marcos Pontes era responsável pelo funcionamento do sistema, atuando como engenheiro de voo|Crédito: Cedida/Assessoria MP

PU – …então quais são os atuais projetos e ações da AEB?
MP – Praticamente todos estão em compasso de espera.

Marcos Pontes, ao meio, momentos antes de partir para o Espaço |Crédito: Cedida/Assessoria MP

Marcos Pontes (centro) momentos antes de partir para o Espaço |Crédito: Cedida/Assessoria MP

PU – Há previsão de um novo brasileiro ir ao espaço, ou até mesmo de você voltar?
MP – Outro brasileiro, astronauta profissional como eu: sem previsão. Turistas Espaciais: espero que tenhamos vários nos próximos anos. A minha Agência vende passagens para voos espaciais suborbitais e estamos com muitos brasileiros na fila (os nossos primeiros clientes devem voar nos próximos 3 a 5 anos). A própria AEB está aguardando a possibilidade de um de seus estagiários, que ganhou um sorteio de marketing da empresa KLM, fazer um desses voos turísticos daqui a alguns anos (5 a 7 anos).  Quanto a mim, devo voltar ao espaço por volta de 2018.

PU – …então o turismo espacial será mesmo possível? Qual tem sido a contribuição do Brasil para isso acontecer?
MP – O turismo espacial é uma realidade, e eu sou um entusiasta desse mercado. Afinal, é um reforço nas oportunidades de mercado para astronautas profissionais, como eu, para desenvolver e operar esses novos sistemas para levar turistas com segurança para o espaço. O Brasil não tem nenhuma contribuição na área (exceto pelo meu conhecimento e trabalho no desenvolvimento da área com empresas internacionais).

PU – Quase 6 décadas depois da efervescência da Corrida Espacial, do ponto de vista ideológico – e até científico – o que os Países ainda buscam no Espaço?
MP – Conhecimento e desenvolvimento de inovações tecnológicas.

PU – A sua atividade de astronauta é uma atividade civil, no entanto você é vinculado ao quadro Militar brasileiro. De que modo as duas atividades dialogam?
MP – As atividades são distintas e sem qualquer ligação administrativa ou operacional. Sou da reserva da Força Aérea como praticamente todos os meus companheiros de turma da AFA (iniciamos com 245 cadetes e agora só temos 10 brigadeiros na ativa da FAB). Contudo, apesar da função de astronauta não ter nada a ver com a carreira militar, mantenho ainda estreita ligação com as Forças Armadas do Brasil.

O desafio maior de tudo isso é sincronizar as atividades e objetivos da exploração espacial com as necessidades crescentes na Terra de sistemas mais inteligentes

PU – O senhor mantém contato/parceria/atividade com as instituições brasileiras voltadas para o desenvolvimento aeroespacial, como, por exemplo, Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, em Natal/RN?
MP – Conforme acordo que fiz com a AEB, em 2005, eu permaneço à disposição do Programa Espacial Brasileiro para novas missões (eles podem me escalar a qualquer momento) por 10 anos depois da assinatura do contrato da escalação da Missão Centenário, em outubro de 2005. Permaneço mantendo meu posto em Houston [Texas, nos EUA] à disposição como liaison [contato] da AEB para qualquer necessidade com a NASA também durante esse período, assim como sempre me coloquei à disposição para ajudar no desenvolvimento tecnológico dos sistemas nacionais, da estratégia da política espacial e dos centros de lançamento. Contudo, até hoje, nunca fui solicitado a ajudar. Acredito, portanto, que não foi necessário utilizarem meu conhecimento e experiência.

Alunos posam para fotos na Feira

Alunos posam para fotos na edição anterior da Feira de Ciência do Semiárido, evento que irá receber o astronauta | Crédito: Eduardo Mendonça/Assecom/Ufersa

PU – O projeto Mars One “promete” levar os primeiros colonos terráqueos a Marte. O que se sabe sobre o nosso “Planeta Vermelho”? Você acredita nessa empreitada?
MP – Não acredito na qualidade técnica desse projeto. Diga-se de passagem, não tem nada a ver com a NASA e é claramente subdimensionado. Basicamente, apenas uma campanha de marketing.

PU – Como vem evoluindo a exploração do espaço pelo homem? O que você destacaria como sendo as principais conquistas e também como sendo os maiores desafios para o futuro. Em suma, o que o futuro nos espera?
MP – Devemos ampliar o desenvolvimento das empresas privadas nas operações espaciais “Near Earth” [voltadas para objetos próximos da Terra] e ampliar a exploração do Espaço profundo pelas agencias de ponta como NASA, Roscosmos, ESA, China e Índia. Descobertas interessantes em Marte devem nos levar a uma maior exploração do Planeta culminando com voos tripulados para lá depois de 2033. Sistemas de detecção e defesa de asteroides devem ser desenvolvidos, novos materiais devem ser desenvolvidos, novo sistema de propulsão será desenvolvido, melhorando o alcance e eficiência dos sistemas atuais. O turismo espacial suborbital será realidade. O desafio maior de tudo isso é sincronizar as atividades e objetivos da exploração espacial com as necessidades crescentes na Terra de sistemas mais inteligentes (e pessoas/dirigentes mais inteligentes) para tornar realidade prática o desenvolvimento sustentável.

O turismo espacial é uma realidade, e eu sou um entusiasta desse mercado

PU – Como o Ensino Básico – Fundamental e Médio – pode desenvolver nas nossas crianças mais interesse pela ciência, inovação e tecnologia?
MP – Desenvolvendo mais atividades em laboratório, especialmente com elementos comuns do dia a dia de hoje (robótica, softwares, eletrônica, propulsão, foguetes de água etc).

– Conheça o trabalho desenvolvido pela Ufersa com Robótica nas Escolas.

PU – Há um pensamento de Heráclito que diz que “o homem não entra no mesmo rio duas vezes, pois nem o homem, nem a água serão os mesmos”. Se, ao invés de rio, pensarmos na sua ida ao Espaço, o que mudou em você, na sua forma de vê o mundo, de vê as pessoas…?
MP – Um voo espacial é muito “especial” no sentido de nos trazer mais perto das pessoas e depois de nos levar bem longe delas.

Marcos Pontes recebe assistência durante retorno à Terra |Crédito: Cedida/Assessoria MP

Marcos Pontes recebe assistência durante retorno à Terra |Crédito: Cedida/Assessoria MP

Serviço –
Marcos Pontes estará em Mossoró/RN, nessa quinta-feira, dia 08 de outubro, durante a solenidade abertura da quinta edição da Feira de Ciência Para Todos no Semiárido Potiguar, a partir das 8h, no Expocenter, localizado no Câmpus Leste da Ufersa. A programação da Feira, no entanto, começa no dia 7 e segue até o dia 9, com exposição de trabalhos de iniciação científica desenvolvidos por estudantes da rede pública de ensino do RN.

Links –
Confira a Programação e todas as informações sobre a Feira de Ciência
Para saber mais Sobre Marcos Pontes
Entenda o Projeto Mars One, que seleciona colonos para Marte. Tem brasileiro na seleção.
Conheça o Programa Espacial Brasileiro.

*Entrevista concedida ao jornalista Higo Lima/Assecom/Ufersa (higo.lima@ufersa.edu.br).