Estudantes da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, dos cursos ligados as Ciências Agrárias, contam com uma área de 416 hectares para as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Localizada na zona rural de Mossoró, em Alagoinha, a 20 km do Câmpus Central, a Fazenda Experimental Rafael Fernandes foi incorporada à Escola Superior de Agricultura de Mossoró e, consequentemente, a Ufersa, com a transformação em Universidade. O casarão da fazenda tem data de construção no final da década de 30, pelo Serviço de Plantas Têxteis, com recursos do Governo. “Eram terras de fomento”, lembra o pesquisador José Francismar de Medeiros, que há 14 anos realiza experimentos na localidade.
As primeiras pesquisas datam da década de 70, pelo professor Jadilson Rubens de Castro e eram voltadas para a produção combustível (álcool), a partir do sorgo. “O experimento ocupava 20 hectares com diversas variedades da planta”, lembra o professor José Francismar que na época estudava Agronomia na Esam. Durante anos, o espaço ficou subutilizado, mas a partir da década de 80, o professor Paulo Sérgio, passou a utilizar a Fazenda para os seus experimentos. Ele garante que já foram mais de 150 pesquisas com as mais diversas culturas: milho, feijão-caupi, girassol, essências florestais, entre outras.
Atualmente, o professor mantém nove experimentos, envolvendo estudantes de graduação e pós-graduação. Paulo Sérgio diz que a partir de 2000 outros professores também passaram a utilizar a Fazenda.
, afirma ao reconhecer a importância da Rafael Fernandes. São pesquisas com plantas frutíferas, hortaliças e também estudos relacionados com a salinização do solo. A Fazenda é muito utilizada para aulas práticas.“Além de um espaço de pesquisa, a Fazenda tem seu papel social ao disponibilizar água para as comunidades que estão em seu entorno”
O professor Paulo Sérgio acredita que com a perfuração de um segundo poço, feita no ano passado, com investimento de mais de R$ 2,2 milhões, a quantidade de experimentos aumente em decorrência da maior oferta de água. O novo poço tem capacidade para irrigar uma área de 21 hectares. “Há três anos frequento a Fazenda para obter experiência. A Universidade oferece transporte para o nosso deslocamento, assim ganhamos conhecimento profissional, realizando pesquisa de campo”, afirma a mestranda em Fitotecnia, Thaisy Gurgel.
ADMINISTRAÇÃO – Há sete meses, a Fazenda Experimental Rafael Fernandes é administrada pelo engenheiro agrônomo, Francisco das Chagas Gonçalves. Ele diz que a maior parte das atividades é feita por meio de projetos cadastrados na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura. “Os professores aprovam juntos aos órgãos financiadores e colocam em prática com a participação dos bolsistas”, explica. A equipe é formada por dois agrônomos, dois auxiliares de agropecuária, um vigia e um motorista. A Fazenda dispõe ainda de um trator traçado, uma camionete e uma moto Honda, veículos que dão suporte as atividades.
A casa grande funciona como alojamento durante as atividades de ensino, pesquisa e extensão realizadas em Alagoinha. O espaço, que é climatizado, tem capacidade para abrigar ate 25 pessoas, em dormitórios com beliches e, cozinha para o preparo das refeições.
Plano Diretor para disciplinar o espaço
A Universidade já tem concluído um Plano Diretor para a Fazenda Experimental Rafael Fernandes. Elaborado pelos professores Francismar Medeiros, Leonardo França e Paulo Sérgio, o documento visa à preservação do espaço, formado na sua grande maioria por floresta nativa, a caatinga. O Plano Diretor estabelece que 60% da Fazenda será para criação de uma unidade de preservação ambiental.
A área destinada à pesquisa com a instalação de experimentos ficou com 160 hectares. Outros 26 hectares foi destinada para a Trilha dos Polinizadores, uma área para estudos ecológicos. O Plano Diretor atualmente se encontra em processo de discussão e o próximo passo será a sua votação e aprovação pelo Conselho Superior Universitário, o Consuni.
Experimentos com abelhas
A Fazenda Experimental da Ufersa também abriga o Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura – Cetapis-RN, voltado para a realização de estudos e pesquisas com abelhas. O Centro conta com um Laboratório Central, uma Casa de Estagiários e Casa do Pesquisador e Laboratório de Processamento de Cera moldada. Inicialmente, desenvolveu atividades relacionadas à apicultura, com recursos do Projeto Pró-Rainha. A partir de 2010 o Centro Tecnológico passou a ser denominado CETAPIS-RN quando passou a abranger também as atividades relacionadas a meliponicultura, ocasião em que foi instalado um Meliponário com mais de 100 colônias de abelhas sem ferrão instalado próximo ao Laboratório Central.
O Cetapis dispõe ainda, em outra área da Fazenda Experimental, de apiários experimentais nos quais estão instaladas mais de 100 colmeias de abelhas africanizadas Apis mellifera e um apiário especial coberto, para estudos de enxameação, um banco de rainhas selecionadas com colmeias recrias modelo Ribeirão Preto para produção em série de rainhas de abelhas africanizadas e um meliponário com mais de 100 colônias de abelhas sem ferrão.
Pesquisas inéditas com uva
Pesquisas realizadas recentemente na Fazenda Experimental apontam para a viabilidade do cultivo da uva na região. Os dados obtidos no ensaio em Mossoró permitiram mostrar com clareza a possibilidade de cultivo de uvas de mesa nessa região do semiárido nordestino. Ao longo dos ciclos de produção foi possível observar, por exemplo, a propriedade de se optar pela cultivar mais precoce, no caso da variedade Isabel Precoce, também mais tolerante às principais doenças fúngicas que atacam a videira.
A constatação está na pesquisa “Produção de uva de mesa com baixo impacto ambiental no Vale do Mossoró-Açú”, onde foram avaliados os fatores de produção, pós-colheita e fenologia das plantas em produção. A pesquisa concluiu que a uva de mesa pode ser cultivada com sucesso na região e que qualquer uma das três cultivares estudadas: (Niágara Rosada, Itália Melhorada e Isabel Precoce) podem ser explorada comercialmente com sucesso.
O parreiral já formado na Fazenda Experimental servirá de futuros trabalhos de pesquisa desenvolvidos pelo Grupo de Fruticultura da Ufersa contribuindo com elaboração de teses, dissertações e monografias. A pesquisa com uva é desenvolvida pelo pós-doutorando, Djando Jesus Dantas, sob a orientação do professor Celson Pomer.